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Entre a ignorância e a sabedoria

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A sabedoria é artigo raro, tem pequena abrangência, é limitada e está mal distribuída entre as pessoas, enquanto a ignorância abunda, tem uma abrangência ilimitada e está disseminada pela grande maioria das pessoas.
Ainda que nos autodenominemos homo sapiens, a sabedoria não é o que nos distingue dos demais animais, mas a capacidade de engendrar as ideias mais tolas e segui-las achando que é a melhor das coisas.
Basta dar uma olhada na história para perceber como esse mundo já foi pensado das formas mais absurdas, para perceber que não há sabedoria na espécie humana, no máximo há uma busca por ela, mas só para aqueles que percebem que é ignorante, que são poucos, a grande maioria acredita que sabe a verdade, o certo e o justo em tudo e para todos.

Esses sempre acusam, condenam ou matam em nome do bem; não há maior ignorância do que a de confundir o juiz com um carrasco.
Ora, o sábio sabe que é ignorante e o ignorante se acredita sábio. Eis porque a sabedoria tem pequena abrangência, pois conhece os limites do saber, que sempre se sabe pouco sobre pouca coisa.
É limitada porque não opina sobre o que pouco ou nada sabe; não decreta afirmações e presunções de saber das quais não possa ter uma base sólida para exercer o difícil processo de conclusão lógica, mais do que psicológica, convincente antes que apenas persuasiva.
Além disso, ainda que alguns poucos nasçam com uma capacidade quase inata de inteligência, o fato é que poucos estão dispostos a percorrer o prosaico caminho da sabedoria, que exige certo esforço pessoal para exercitar a inteligência.
São precisos estudos, leituras, reflexões e experiência de vida para se adquirir alguma sabedoria, portanto, acaba mal distribuída entre as pessoas, porque a preguiça e a falta de coragem impera na maioria das pessoas que gostam de coisas prontas, o que não é o caso da sabedoria e da inteligência, que se constrói dia a dia, com esforço e persistência, e com coragem para perceber o equívoco de várias certezas: algo que tem um começo, mas não tem um fim.
Já a ignorância se caracteriza por palpitar sobre tudo, por fazer afirmações categóricas sem provas convincentes, não conhecendo limites para se impor aos demais, forçando a convicção das pessoas pela força da maioria aparentemente convencida de alguma verdade “eterna”.
Por pertencer à maioria e está bem disseminada entre ela, esta pouco consegue ver ou perceber a inteligência e a sabedoria quando se defrontam com elas, pois confunde o sabido com sábio e o culto com o inteligente. A ignorância não tem, nem quer, a paciência do diálogo para convencer, sendo adepta de que a força faz o direito e a verdade, para impor suas ideias.
Foi a ignorância que levou a escravização dos homens, a opressão das ideias novas no decorrer da história, a opressão das mulheres, a perseguição de minorias, que levou e leva os homens à barbárie, a guerra, a violência e a vida incerta dos dias atuais.
Na luta entre a sabedoria e a ignorância, essa última tem vencido o confronto. Exatamente porque não se percebe ignorância e não enxerga inteligência na inteligência, mas uma ignorância, ela na verdade nem luta contra a inteligência, apenas se afirma enquanto tal, uma inteligência, e despreza qualquer coisa que coloque em dúvida suas certezas.
Não ter dúvidas é sinal claro de ignorância. Na verdade, apenas a sabedoria luta para libertar os homens de suas ignorâncias, com pouco sucesso. Mas, a grande ignorância é a não percepção que o maior problema dos homens é o próprio homem, sua conformação com as injustiças como se fosse uma fatalidade divina, histórica ou natural, como se fosse algo alheio às nossas escolhas diárias, como se fossemos vitimas ou pacientes dos acontecimentos, quando todos estão contribuindo com sua pequena parte, para tudo permanecer tal e qual.
De minha parte, acredito que sempre se pode fazer alguma coisa para melhorar o mundo, mesmo que o mundo nem queira essa melhora: melhorar a si mesmo é a pequena contribuição que cada um de nós pode, mas principalmente deve dar ao mundo.
Não sei se algum dia atingirei a inteligência e a sabedoria, já que a ignorância nunca nos abandona, ainda que sábios ou inteligentes, mas tenho feito o possível para me tornar melhor e melhorar aqueles com quem convivo, ainda que não tenha certeza de ter tido algum êxito.
 
Ainda que assista atônito a vitória diária da ignorância, espero e torço pela sabedoria, pois mesmo que não seja certa a conquista dela, ela é, sem dúvida, possível. Por fim, apesar dos esforços, se não conseguir ser mais sábio, espero ao menos conseguir ser um pouco menos tolo, o que talvez seja mais realista.
Roberto de Barros Freire é professor do Departamento de Filosofia/UFMT
[email protected]

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O que os homens querem?

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A sociedade contemporânea, com todas as suas nuances de modernidade e igualdade de gênero, ainda carrega traços profundos de um patriarcado que persiste em se adaptar às conveniências de cada época. Se antes o homem era esperado como o único provedor, hoje a mulher é convidada — ou forçada — a compartilhar ou assumir essa responsabilidade, enquanto antigos privilégios masculinos permanecem intactos.

O discurso de independência financeira feminina é celebrado como um marco do feminismo, mas na prática, muitas mulheres ainda enfrentam a sobrecarga de papéis. Elas devem ser profissionais exemplares, mães cuidadosas, companheiras compreensivas e, agora, provedoras financeiras — tudo isso enquanto cumprem com os deveres domésticos que historicamente lhes foram impostos. A pergunta que surge, então, é: o homem moderno quer uma parceira ou uma solução para a própria vida?

Ao refletir sobre a construção de relacionamentos, percebe-se que muitos homens desejam o lado conveniente da modernidade: mulheres independentes, que não dependam deles financeiramente, mas que, paradoxalmente, estejam disponíveis para solucionar seus problemas emocionais, domésticos e, por vezes, financeiros. Esse comportamento revela uma perpetuação do machismo, agora mascarado por um discurso de igualdade.

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A modernidade trouxe uma nova roupagem ao casamento e aos relacionamentos, mas a essência de muitas exigências masculinas pouco mudou. Querem a parceria sem a reciprocidade; querem o apoio sem o comprometimento equivalente. Nesse contexto, a mulher se vê diante de um paradoxo: ao se libertar de antigas correntes, encontra-se presa a outras, criadas por expectativas irreais e pela ausência de um verdadeiro compartilhamento de responsabilidades.

Autora: Ana Lúcia Ricarte.

 

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