Já se diz popularmente: “Ame os seus entes queridos enquanto estão por aqui”. Faça com que sintam acolhidos integralmente. Porque, depois que partirem, nada mais terá sentido algum. Vai sobrar apenas um grande vazio…”
Foi exatamente isso que comprovei após perder, no último dia 22, minha mãe Maria Madalena Batista. Um ser humano de serenidade espantosa, acolhedora ao extremo. Tanto que as visitas contínuas que recebia em casa, no Santa Amália, geralmente com desculpas de filar café, na verdade tinham outra finalidade: todos gostavam de ouvir seus conselhos, ponderações. Tinham “dona Helena” – conforme era mais conhecida – como uma mulher de sabedoria privilegiada. Concordo plenamente.
E é com base no dito café que ando enfrentando um vazio medonho desde o seu falecimento, quando ela nos deixou de repente, prostrada por sessões de radioterapia.
É mais uma guerreira que tomba, vítima de impiedoso câncer. É quase difícil aceitar que, até há pouco tempo, dona Helena ainda interagia alegremente…
ENFIM…
Desde que nos despedimos de sua doce figura, temos tentado a nos acostumar com o impacto do grande vazio que sua imperiosa presença preenchia na casa.
Como era salutar vê-la trabalhando feliz no seu pequeno atelier de costura, sempre atenta a quem apertava a campainha ou batia no portão. “Aguarde que já vou!”, respondia sorridente.
Também saía dali o tempo todo, praticando vai e vem incansável para cumprir os afazeres domésticos, inclusive o preparo de deliciosas refeições. Mesmo do lado externo da casa, distante da cozinha, dava para sentir o aroma apetitoso do seu tempero, herdado das raízes mineiras, em Patos de Minas -MG. Foi onde nasceu, em 1948.
“Dona Helena” é e será sempre uma pessoa vitoriosa para todos nós, seus filhos, amigos e a legião de admiradores que conquistou em terras mato-grossenses.
Ela desembarcou em MT em meados dos anos 60, vindo a morar inicialmente na pequena cidade de Dom Aquino. Ao se mudar para a capital mato-grossense, volta e meia visitava Dom Aquino, entremeando prosa alegre com conhecidos e parentes.
Ao todo, “dona Helena” gerou sete filhos, educando-os exemplarmente. Sinto-me honrado por integrar sua prole. Tornamo-nos seu grude corriqueiro, abarrotando a casa nos finais de semana e, por vezes, também no decorrer dos dias úteis. Nada como estar ao lado de nossa mamãe querida…
O triste de tudo é que toda essa rotina reconfortante deixou de ser algo palpável no dia a dia. Pois tenho acordado sem sentir o aroma de café fresco, estranhando não ouvir sua voz rouca e passos ao andar pela casa.
Nos primeiros dias, confesso, saí do quarto sem entender tanto silêncio, tanta ausência de tudo, inclusive do cheiro de café. E a ficha caiu ao perceber que dona Helena partira de vez para algum lugar iluminado. Fisicamente, já não estará ali nunca mais…
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Crente na existência divina, sei que ela deve estar nos olhando preocupada, talvez sem entender, a princípio, o porquê de uma mudança tão desavisada. Será uma acomodação gradual, bem sei, pois logo, logo terá entendimento lúcido de que tem agora diante de si uma nova missão, sem perder o foco de suas antigas raízes terrestres, de amor infinito.
Espero, sinceramente, que um dia possamos nos encontrar com dona Helena, para então brindar os mistérios reais da vida que segue após o despojamento das vestes comuns que Deus nos concedeu na Terra.
Por ora, é imperioso nos limitarmos a recordar de suas feições amorosas, prontas para ajudar a quem necessitasse. Dona Helena foi serva especial do Senhor, ungindo de afeto quantos a procuraram. Daí a extensão impactante do vazio que sua ausência deixou no ar. É preciso, mesmo que difícil, nos acostumarmos com isso…
Por ANANIAS BATISTA, filho