Mesmo afastados por suspeita de receber propina de construtora, os vereadores Chico 2000 (PL) e Sargento Joelson (PSB) continuarão recebendo seus salários pagos com dinheiro público — e com a bênção da própria Câmara de Cuiabá.
A presidente da Casa, vereadora Paula Calil (PL), decidiu abrir mão de recorrer da decisão judicial que garantiu os vencimentos dos parlamentares, alvos da Operação Perfídia, deflagrada pela Polícia Civil. A investigação aponta que ambos teriam negociado vantagens indevidas em contratos públicos.
A justificativa da presidente para não lutar contra o pagamento aos afastados foi tão direta quanto polêmica:
“Concordo que é imoral, mas é legal.”
A declaração foi feita nesta quarta-feira (12), após nova pressão sobre a presidência da Câmara por aceitar, de forma passiva, a decisão da Justiça.
“Esta Casa não está inerte. Nós nos reunimos com a assessoria jurídica e com a Procuradoria e chegamos a um consenso. Como já existe jurisprudência, e até que seja provado se eles são culpados ou inocentes, decidimos não recorrer”, disse Paula Calil.
Investigados, afastados… e bem pagos
A decisão beneficia dois parlamentares alvo de investigação por corrupção ativa e passiva, suspeitos de participar de um esquema de pagamento de propina ligado a uma construtora que firmava contratos com a Prefeitura de Cuiabá.
Ambos estão afastados do cargo por decisão judicial, mas continuam recebendo salários bancados pelos cofres públicos — algo que, segundo Paula Calil, a Câmara já teve que fazer no passado, de forma retroativa, após perder na Justiça.
O recuo da presidente da Casa causou revolta entre servidores e parte da opinião pública, mas ela segue firme em sua posição.
“A Câmara respeita as decisões judiciais. E, para evitar prejuízo ainda maior aos cofres públicos, como pagamento com juros e correções, decidimos acatar”, reforçou.
Decisão que revolta
A decisão judicial que garantiu o salário aos afastados foi proferida em maio, sob o argumento de que o afastamento não anula os direitos trabalhistas dos parlamentares, mesmo com as graves suspeitas.
Chico 2000 e Sargento Joelson foram flagrados em conversas interceptadas pela Polícia negociando vantagens com empresários. Apesar disso, seguem oficialmente apenas “afastados”, sem condenação definitiva — o que abre brecha para decisões como essa.
A Câmara, por sua vez, optou por não lutar, preferindo abrir mão de recorrer, mesmo diante da indignação da população cuiabana. A conta, como sempre, será paga pelo contribuinte.
Jornalista: Mika Sbardelott