A situação da Saúde Pública na capital e em Mato Grosso, assim como em todo o país, não é nenhum segredo: falta maquinário, aparelhos, profissionais e principalmente investimentos. Em todo estado a saúde está debilitada. Enfraquecida por argumentos variados da população. Além disso, o que deixa a luz do fim do túnel não passar de uma pequena penumbra é o aspecto desanimador de pacientes que circulam todos os dias nos hospitais na busca de um atendimento ‘digno’.
“Às vezes chegamos ao hospital pra ser atendido e o médico nem na sua mão pega. Não te cumprimenta”, reclamou um paciente na policlínica do bairro Verdão.
A realidade é que a Saúde está na UTI. Respirando por aparelhos. O governador Pedro Taques (PSDB) reconhece e sabe disso. O grande problema é que a atual situação vai além de apenas saber e reconhecer. Entretanto, esta, quem sabe, seja a única saída de enxergar alguma esperança: confiando nas palavras do Chefe do Executivo matogrossense. “Fui eleito para isso e, no que depender de mim, termino o meu mandato no ano que vem com a saúde adequada e de qualidade”, disse o governador durante uma entrevista concedida no Palácio do Governo nesta semana. Ainda argumentou que pretende ‘sarar’ a ferida. “Para que o problema seja resolvido temos que ter mais investimentos na Saúde em nosso estado”.
Atualmente, quem paga a conta e vive as conseqüências deste quadro é a população usuária, que enfrenta esta crise de frente. As verbas destinadas à saúde ainda são insuficientes, ou não chegam até seu destino. O governador informou que vai acompanhar de perto todos os investimentos dentro do Estado.
No ano passado os médicos de Cuiabá cruzaram os braços. Mas não quiseram prejudicar a população que depende do atendimento. Fizeram atendimento público e gratuito em praça do centro da cidade, mais reivindicaram pagamento do piso nacional e melhor condição de trabalho. “Neste ano não vamos ter greve”, garantiu o governador.
Um dado recente, mas de gestão anterior a de Pedro Taques, mostrava que 77% da população consideram a Saúde Pública ruim ou péssima. Em Mato Grosso, além de Cuiabá 10 municípios constavam na caixa preta da Saúde: Várzea Grande, Rondonópolis, Alta Floresta, Barra do Garças, Guarantã do Norte, Pontes e Lacerda, Porto Espiridião, Tangará da Serra, Araguainha e Cáceres.
Confira algumas cidades os principais problemas relatados pelos usuários da saúde pública na época:
Alta Floresta
Em Alta Floresta (803 km ao Norte da Capital), o problema relatado é do Hospital Regional Albert Sabin. “Descaso com o funcionário, alimentação de péssima qualidade sem cardápios variados, demora no atendimento dos pacientes, sem veículos para locomoção dos pacientes para fazer exames fora do Hospital, sem telefone, sem internet, atraso nos pagamentos dos médicos e dos prestadores de serviço”.
Barra do Garças
No município de Barra do Garças (509 km ao Leste de Cuiabá), as reclamações são sobre o Hospital e Pronto Socorro Milton Pessoa Morbeck.
Em uma delas, uma paciente reclama dos equipamentos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), que estariam “sucateados e abandonados”.
Em outro dia, a mesma pessoa reclama do sucateamento dos aparelhos do laboratório de urgência e emergência.
Guarantã do Norte
Em Guarantã do Norte (715 km ao Norte da Capital), o relato é sobre atraso no atendimento. “No dia 15 de março de 2014 eu estava passando mal, fui para o hospital, cheguei por volta das 15h40, fui ser atendida pelo médico por volta das 23h. No dia, só havia um médico fazendo atendimento e toda vez que chegava alguma emergência ele parava de atender o pessoal da triagem e corria atender para a emergência”, explicou.
“Em conversa com as demais pessoas que estavam aguardando para serem atendidas, me informaram que essa situação ocorre freqüentemente. Isso sem contar que o prédio do hospital está em obras há anos, e nunca termina”, completou.
Pontes e Lacerda
Em Pontes e Lacerda (448 km a Oeste da Capital), dois pacientes relatam a demora no atendimento do Programa de Saúde da Família (PSF) Pedro Prestes. “Somente são marcadas por dia 12 consultas, alguns dias atrás estava atendendo 18 pessoas, agora não atende mais. O resto tem que voltar outro dia. Se não tiver com febre, não atende. Pode estar com tosse e dor, mas tem que voltar outro dia. Será que preciso ter febre pra mostrar que estou doente? Uma reforma também foi iniciada, mas não terminou. Só funciona um banheiro, cadeiras tem poucas e velhas, assim mesmo escondem pra gente não usar. Socorro, nos ajudem!”, contou uma paciente.
Em outro relato, de um paciente, a reclamação é sobre a Santa Casa da cidade: “pacientes têm que esperar horas para serem atendidos. Alguns deles são vítimas de acidentes e chegam ao hospital com fraturas. Mesmo assim, precisam esperar. Falta humanização no atendimento”.
Porto Espiridião
Em Porto Espiridião (326 km a Oeste de Cuiabá), a crítica é quanto ao Posto de Saúde do município. “Faltam remédios, o atendimento é muito ruim, parece que os funcionários estão fazendo um favor para a população. Quem passa mal tem que esperar a vontade do médico para atender, alguns dizem que não atendem a noite. Todo tipo de acidente é encaminhado para Cáceres, isso quando tem ambulância, se não tem que esperar”.
Tangará da Serra
Em Tangará da Serra (239 km a Médio-Norte), duas reclamações são da Materday: “sem nenhum pediatra para nos atender”, disse uma.
“Estamos há mais de 12 horas sem atendimento especializado do pediatra. O meu filho está na Semi-UTI, sem atendimento pediátrico. A médica saiu da emergência para atender meu filho, parou o atendimento do meu filho, para atender outra emergência”, relatou outra.
Outro paciente reclama do Pronto Socorro: “falta de especialidades médicas básicas”.
Araguainha
Em Araguainha (460 km ao Sul de Cuiabá), o relato é sobre o Programa de Saúde da Família. “A saúde pública do município passa por sérias dificuldades. Há oito meses a cidade está sem fisioterapeuta, e, enquanto isso, o paciente precisa andar mais de 100 km para conseguir um profissional. Além disso, há quase dois meses, a cidade não conta mais com atendimento médico. Mesmo assim, os recursos federais de cerca de R$ 10 mil reais mensais continuam sendo encaminhados para ajudar a pagar um especialista”, afirmou. “Remédios que se encontram na farmácia estão próximos do vencimento em função da ausência de um profissional para receitar. Outra carência da cidade está relacionada com uma das ambulâncias, pois uma das existentes no município encontra-se danificada e não esta atendendo a população”, completou.
A pessoa também denunciou um suposto nepotismo no município.
“Outra reclamação rotineira no município está relacionada ao nepotismo. A responsável pelo combate da dengue não promove o trabalho de prevenção e fica apenas na Secretaria Municipal de Saúde. Ela é nora do secretário de saúde. Na vigilância sanitária, uma das fiscais é esposa do secretário de Saúde”.
Cáceres
Em Cáceres (225 km a Oeste de Cuiabá), a reclamação é sobre o Pronto Socorro: “falta constante de remédios e demais suprimentos”.
Várzea Grande
Em Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá, o Pronto Socorro também é o alvo da crítica. “Servidores mal capacitados, falta de transparência, faltam leitos, os aparelhos de tomografia e raio x constantemente estão quebrados (é o que dizem para a população), muita sujeira, infiltrações nas paredes e no teto e superlotação, sem dizer na falta de médicos”, diz um paciente.
Ainda sobre a Cidade Industrial, a reclamação é sobre a Unidade Básica de Saúde. E desta vez a crítica é de um funcionário da rede. “Unidades de saúde, tanto básica quanto terciária, estão totalmente sem insumos para a prestação de serviços aos usuários. Estamos sem materiais para curativos. Trabalho em unidade básica e não temos luvas de procedimento, saco de lixo para contaminantes, estamos sem soro fisiológico, lamina de bisturi, gazes, esparadrapo, equipamento para medicação, medicação, esfigmo, esteto, glicosímetro”, citou. “Em resumo, estamos sem nada, precisamos de intervenção federal. Não temos nenhum tipo de impresso para atendimento médico, receituário, solicitação de exames e outros, imprimindo na unidade quando temos papel e toner, o que ultimamente é raro (neste momento não temos papel para imprimir, estamos usando o verso de formulário utilizados com menor frequência). SOCORRO!”.
Rondonópolis
Em Rondonópolis (212 km ao Sul de Cuiabá), a unidade em xeque é o Hospital Regional. A paciente denunciou a demora.
“Venho denunciar a demora para fazer uma cirurgia simples. Teria que esperar dois anos e meio para ser atendida. Por isso, terei que buscar auxílio em outro estado (Minas Gerais), que também não me dará certeza de obter a cirurgia a contento”.