Mundo

'Cidade Proibida' que abrigou soviéticos e nazistas tenta se livrar de passado militar na Alemanha

Published

on

Ruínas, antigas casernas restauradas e casas novas dividem o espaço na “Cidade Proibida”, localizada a cerca de 40 quilômetros ao sul de Berlim. Mas antes de ganhar esse apelido, durante quatro décadas Wünsdorf foi conhecida como a “Pequena Moscou”, onde militares soviéticos e seus familiares viviam isolados do resto da Alemanha.

Com acessos bloqueados e uma cerca ao seu redor, apenas alemães com autorização podiam entrar na cidade escolhida para abrigar a sede do Comando Superior das Forças Soviéticas na Alemanha a partir de 1953. Escolas, lojas, supermercado e um centro de lazer e de esportes proporcionavam aos militares soviéticos e seus familiares todo o conforto necessário.

“Os russos que moravam em Wünsdorf tinham acesso a uma variedade maior produtos do que os alemães que moravam na República Democrática Alemã (RDA)”, contou Jürgen Naumann, que trabalhava para uma empresa de segurança que prestava serviço na cidade durante o período que ela foi ocupada pelo Exército Vermelho.

Estima-se que cerca de 35 mil cidadãos da União Soviética moraram na cidade até 1994, quando Wünsdorf perdeu todos os seus habitantes pela segunda vez em menos de 90 anos.

A primeira perda marcou o início da história militar da região, em 1907, com os planos do Império Alemão para a construção de complexo para treinamento da Forças Armadas.

Segundo o historiador Sascha Gunold, do Centro para História Militar e Ciências Sociais das Forças Armadas da Alemanha, a proximidade de Berlim, a malha ferroviária existente na região e um certo isolamento foram os aspectos que levaram a escolha de Wünsdorf para abrigar o projeto.

De centro de treinamento a base de guerra

Com a escolha imperial, os habitantes da pequena vila foram obrigados a deixar suas casas em 1910. Neste período, foram construídos os principais e mais imponentes prédios do complexo, incluindo o espaço chamado a partir de 1945 de “Casa dos Oficiais”, destinado à prática de esportes até o fim da Segunda Guerra Mundial e, posteriormente, transformado no centro cultural da “Pequena Moscou”.

Durante a Primeira Guerra Mundial, foram construídas ainda duas prisões e a primeira mesquita em solo alemão, para atender soldados muçulmanos detidos em Wünsdorf. O templo foi usado por muçulmanos berlinenses por alguns anos após o fim da guerra – devido ao risco de desabamento, acabou demolida em 1925.

No entre guerras, Wünsdorf se tornou um centro de treinamento esportivo para militares, usado inclusive na preparação de esportistas alemães que participaram dos Jogos Olímpicos de 1936, em Berlim. Mas, além desta sua função oficial, o local também serviu como uma base para o desenvolvimento de tanques de guerra.

“O Reichswehr [Defesa do Império] e Wehrmacht [Forças Armadas do Regime Nazista] construíram uma ampla infraestrutura militar em Wünsdorf, com casernas, depósitos, espaços para treinamento de tiro e para a formação de militares”, destacou Gunold.

a “Pequena Moscou”

Na década de 1930, um complexo de bunkers, que incluía uma central de comunicação, passou a integrar a vila militar. Toda essa tecnologia e infraestrutura contribuíram para que Wünsdorf fosse escolhida para receber a maior central de comando da Wehrmacht, as forças armadas da Alemanha no período nazista. Da cidade, foram tomadas muitas decisões sobre os rumos da Segunda Guerra Mundial.

Apesar da importante posição militar, o complexo sobreviveu a Segunda Guerra praticamente intacto. Em abril de 1945, foi ocupado por tropas soviéticas quase sem resistência alguma, pois a grande maioria dos militares alemães estacionados ali fugiu antes da chegada do Exército Vermelho, que assumiu então o controle da vila militar.

De complexo militar alemão a cidade proibida

Em 1953, o Comando Superior das Forças Soviéticas na Alemanha foi transferido para Wünsdorf. Durante esse período de ocupação, a antiga vila militar se transformou em uma verdadeira cidade – uma das maiores mudanças foi o estabelecimento de um centro cultural na “Casa dos Oficiais”, com teatro, cinema, diorama, piscina, sauna e jardim.

O local ganhou ainda uma grande estátua de Lênin, que teve um destino diferente da que havia em Berlim – lá, logo após o fim da República Democrática Alemã, em 1991, o objeto de 19 metros de altura foi rapidamente desmontado e enterrado num areal.

Em Wünsdorf, porém, Lênin sobreviveu ao fim da Guerra Fria e continua em pé, olhando para o horizonte.

Em 1977, a “Pequena Moscou” também conquistou uma linha trem que a ligava diariamente com a Grande na Rússia. Na estação ferroviária, o nome da cidade era escrito em alemão e em russo.

Apesar de ter se tornado uma verdadeira cidade, Wünsdorf preservou durante esse período seu passado militar. Ao abrigar o Comando Superior das Forças Soviéticas na Alemanha, também teve um importante papel na preparação de um plano operacional, caso a tensão da Guerra Fria passe às vias de fato, lembrou Gunold.

Mas essa bomba-relógio nunca chegou a explodir e toda a preparação se revelou desnecessária. Com a queda da União Soviética e o fim da Guerra Fria, os soviéticos que moravam em Wünsdorf tiveram que deixar a cidade e voltar para sua terra natal.

E assim a “Pequena Moscou” tornou-se uma cidade fantasma da noite para o dia.

“Tudo aconteceu muito rápido. Os habitantes de Wünsdorf formam notificados que tinha que voltar para a Rússia imediatamente e muitos deixaram quase tudo que tinham para trás”, contou Naumann, que atualmente é o responsável pela segurança das ruínas da “Casa dos Oficiais”.

Proibida

Com a retirada, a região de Wünsdorf voltou a pertencer ao governo do Estado de Brandenburgo e grandes planos foram feitos para os prédios abandonados. Foi nesta época também que ela ganhou o apelido de “Cidade Proibida”, devido às restrições de acesso impostas pelo Exército Vermelho, que imperaram durante 40 anos no local.

Depois de perder todos os seus habitantes duas vezes em pouco menos um século, o distrito tenta agora deixar para trás seu passado militar e atrair moradores da capital alemã que desejam viver perto da natureza ou fugir de aluguéis elevados.

Hoje, 6,5 mil pessoas vivem na região. Algumas nas antigas casernas reformadas, outras em casas novas que surgiram em terrenos vazios.

Os planos iniciais do governo previam atrair 10 mil novos moradores para a antiga cidade, que acabou virando um distrito do município de Zossen.

O governo ainda busca investidores para reformar antigos prédios militares, a maioria construída na década de 1910, e a “Casa dos Oficiais”, que é protegida pelo patrimônio histórico.

Em 2015, no auge da crise dos refugiados, algumas casernas foram reformadas e transformadas num abrigo que recebeu cerca de mil requerentes de asilo.

Mas, segundo Naumann, nem todos gostaram da nova vizinhança. Um grupo de interessados em adquirir um antigo prédio administrativo, localizado ao lado do abrigo, e transformá-los em apartamentos habitacionais acabou desistindo do negócio.

 

COMENTE ABAIXO:

Advertisement

Mundo

Fumaça branca no Vaticano: cardeal Robert Prevost é eleito papa e adotará o nome Leão 14

A Igreja Católica tem um novo líder. A tão aguardada fumaça branca saiu da chaminé da Capela Sistina nesta quinta-feira (8), anunciando a eleição do cardeal Robert Francis Prevost como novo papa. A escolha foi feita no segundo dia de conclave, após quatro rodadas de votação. Prevost será conhecido como Papa Leão 14.

Published

on

O cardeal norte-americano foi eleito com pelo menos 89 votos, número necessário para atingir os dois terços dos 133 cardeais votantes. Ele sucede o papa Francisco na liderança da Igreja Católica, que conta com mais de 1,3 bilhão de fiéis ao redor do mundo.

Primeiro papa dos Estados Unidos

Aos 69 anos, Prevost é o primeiro papa nascido nos Estados Unidos e o primeiro oriundo de um país de maioria protestante. Nascido em Chicago, construiu sua trajetória missionária e eclesiástica majoritariamente na América Latina, com forte atuação no Peru, onde viveu por uma década.

Discreto e com perfil reformista, Prevost era prefeito do Dicastério para os Bispos e presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina, duas funções estratégicas no Vaticano. É considerado alinhado à linha de abertura e renovação implementada pelo papa Francisco.

Formado em teologia e direito canônico, ele foi ordenado padre em 1982 e iniciou sua missão no Peru dois anos depois. Em 2014, foi nomeado administrador da Diocese de Chiclayo, onde permaneceu até 2023, quando foi nomeado cardeal.

Denúncias marcaram trajetória

Apesar da trajetória sólida na Igreja, Prevost enfrentou uma crise institucional em 2023, quando três mulheres denunciaram que ele teria acobertado abusos cometidos por dois padres peruanos durante sua gestão em Chiclayo. Segundo os relatos, Prevost recebeu as denúncias e as encaminhou à Santa Sé. Um dos religiosos foi afastado preventivamente. O Vaticano ainda não concluiu a apuração do caso.

A diocese negou omissão e sustentou que todas as etapas exigidas pelo direito canônico foram cumpridas.

Como foi o conclave

O conclave teve início na quarta-feira (7), com 133 cardeais reunidos no Vaticano — sete deles brasileiros. As primeiras votações resultaram em fumaça preta, indicando que não havia consenso. Somente na quarta rodada, já na tarde desta quinta-feira (8), houve a decisão final.

Com a escolha de Prevost, a Igreja agora entra em um novo ciclo, marcado por expectativa sobre a continuidade das reformas iniciadas pelo papa Francisco e os rumos políticos e sociais que o novo pontífice deverá adotar nos próximos anos.

Jornalista: Mika Sbardelott

COMENTE ABAIXO:
Continue Reading

POLÍTICA MT

POLICIAL

MATO GROSSO

MUNICÍPIOS

MAIS LIDAS DA SEMANA