O ex-primeiro-ministro Mohamed Abdullahi Farmajo foi eleito nesta quarta-feira (8) presidente da Somállia pelo parlamento, depois de duas rodadas de votação que provocaram a retirada da candidatura do atual chefe de Estado, Hassan Sheikh Mohamud.
Depois de seis horas de debates e duas votações, Farmajo conseguiu 184 votos a favor e 97 contra Mohamud. Apesar de o ex-primeiro-ministro não ter dois terços dos votos necessários, Mohamud decidiu abandonar a disputa e não se apresentar à terceira rodada.
Reunidos no aeroporto internacional de Mogadíscio, o local mais protegido da capital, os parlamentares somalis fizeram as votações em meio a fortes medidas de segurança para evitar novos ataques dos islâmicos radicais Al Shabab.
Na terça-feira à noite, vários bairros da capital foram atingidos por disparos, enquanto fora de Mogadíscio explodiram os combates entre os Al-Shabab e os soldados da Missão da União Africana na Somália (Amisom), informou a polícia, que não citou nenhuma vítima.
A eleição deve marcar o fim de um processo eleitoral adiado em várias oportunidades e marcado por acusações de corrupção e manipulação.
Por motivos de segurança, um hangar do aeroporto de Mogadíscio recebeu os 275 deputados e 54 senadores do país para a definição do chefe de Estado entre 22 candidatos.
Protegido pela Amisom, o aeroporto de Mogadíscio é considerado o local mais protegido da capital. Nele se encontram os escritórios da ONU, de várias organizações humanitárias e embaixadas.
Parlamentares, jornalistas e analistas passavam por longas filas para superar os postos de controle no local.
Fora do aeroporto, a cidade estava praticamente deserta. O prefeito pediu aos moradores que permanecessem em suas casas. O comércio e as escolas estavam fechados, enquanto sacos de areia bloqueavam as principais avenidas e soldados patrulhavam as ruas.
Vinculado à Al-Qaeda, Al-Shabab prometeu derrubar o frágil governo somali, apoiado pela comunidade internacional e protegido por 22.000 soldados da Amisom.
O grupo islâmico radical foi expulso de Mogadíscio em agosto de 2011, mas controla zonas rurais extensas e ataca com frequência a capital.
Quase 14.000 eleitores delegados – de 12 milhões de somalis – votaram entre outubro e dezembro de 2016 para escolher os novos deputados entre candidatos geralmente designados de maneira antecipada por consenso. Cada um representava um clã ou subclã.
A ideia inicial de voto universal foi abandonada em 2015 por disputas internas e atrasos políticos, além da insegurança crônica no país.
Mas o pleito representa um avanço democrático em comparação com as eleições de 2012, quando apenas 135 notáveis escolheram todos os deputados. Agora o sufrágio universal está planejado para 2020.
O resultado da votação era considerado incerto, sobretudo por causa dos diferentes clãs aproximarem suas posições com o avanço dos turnos.
Entre todos os candidatos o maior destaque era o atual presidente Hasan Sheikh Mohamud, 61 anos, ex-professor universitário e ativista, pertencente ao clã Hawiye, um dos principais da Somália.
Seu antecessor, Sharif Sheikh Ahmed, 52 anos, também era candidato. Ex-chefe da União de Tribunais Islâmicos da Somália, de onde surgiu Al-Shabab, também pertence ao clã Hawiye.
A Somália sofre há quase três décadas com o caos e a violência, alimentados por milícias ligadas aos clãs, grupos criminosos e grupos islamitas. A última eleição realmente democrática aconteceu em 1969.