Mirella Almeida Soares

Somos seres caducifólios

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Quem observa uma árvore caducifólia sem conhecer suas características pode se enganar facilmente. Ao vê-la despida de folhas, muitos pensam que está doente, fraca ou até morta. Mas a verdade é exatamente o oposto. A perda total das folhas é um comportamento natural dessas espécies e se repete todos os anos.

No outono, as árvores se vestem de tons vermelhos, alaranjados e amarelos, criando paisagens que encantam qualquer olhar. Logo depois, já no início do inverno, essas folhas caem — um processo chamado caducidade. Apenas na primavera, no tempo certo, a árvore renasce em novos brotos e inicia mais um ciclo de vida.

Também conhecidas como plantas caducas ou decíduas, essas árvores adotam um mecanismo inteligente: ao perder as folhas, reduzem a evaporação e conseguem armazenar água para os períodos mais desafiadores. A aparência de fragilidade, portanto, é apenas um estágio de fortalecimento silencioso.

E o que essa lição da natureza ensina a nós, seres humanos?

Muitas vezes passamos por fases em que quem está de fora pode achar que estamos estagnados, enfraquecidos ou “adormecidos”. Mas, assim como as caducifólias, também vivemos processos que fazem parte do nosso crescimento. Há momentos em que perder é necessário. Perder hábitos, ciclos, pessoas, pensamentos, versões antigas de nós mesmos.

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Assim como essas árvores deixam cair aquilo que não serve mais, precisamos permitir que nossas próprias “folhas” se desprendam para que a próxima estação encontre espaço para florescer.

Há propósitos que só se cumprem quando o ciclo termina. Há renovações que só acontecem depois da queda. E, enquanto atravessamos esses períodos aparentemente secos, nossos galhos continuam firmes — alicerçados em Cristo.

É Ele quem nos sustenta na fase de espera, no silêncio, na aparente perda. Jesus é a nossa fonte de “água viva”, que nos abastece enquanto a evaporação natural da vida acontece. Nada se perde; tudo nos prepara.

Somos seres caducifólios.
Na estação das perdas, continuamos sendo abastecidos pela água que importa. E, quando a primavera chegar — porque ela sempre chega — nossas folhas voltarão com cor, brilho e propósito renovado, dando um “colorido especial” à vegetação da nossa caminhada.

Fique em paz: as folhas que caem hoje fazem parte da preparação para a beleza da estação que está por vir.

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Sobre a autora — Mirella Almeida Soares

Mirella Almeida Soares
Técnica em Agrimensura e Engenheira Florestal.
Cursando Direito.
Pós-graduada em Administração Pública e Gestão Urbana; Psicanálise; Docência no Ensino Superior; Direito Público; Prevenção e Combate a Incêndios Florestais; e Direito Ambiental e Urbanístico.

📍 Instagram: @mirellaalmeidsoares

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Autoestima negra como estratégia de enfrentamento

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Falar sobre Consciência Negra é falar sobre história, resistência e pertencimento, mas é também falar sobre beleza e, acima de tudo, sobre como nos enxergamos.

A autoimagem é um espelho da identidade. Durante séculos, esse reflexo foi distorcido por padrões que negavam a negritude e exaltavam traços, cabelos e peles que não representavam a maioria da população brasileira.

A beleza negra foi, por muito tempo, silenciada. Nas capas de revistas, nas telas, nas propagandas e até nas bonecas da infância, as referências eram quase sempre brancas. Essa ausência não foi casual: ela moldou a percepção do que era considerado bonito e, por consequência, aceito. Para muitos, o espelho se tornou um espaço de conflito, não de amor.

Mas o tempo, a luta e a consciência transformam-se. Hoje, vemos um movimento crescente de resgate e valorização da estética afro-brasileira. Cabelos crespos e cacheados ocupam seu lugar de destaque, peles retintas ganham visibilidade e a beleza negra se afirma não como tendência, mas como identidade.

Sabemos que comportamento, pensamento e emoção estão interligados. Quando uma pessoa negra assume o cabelo natural, valoriza seus traços e se olha com verdade, não falamos apenas de estética. Falamos de uma estratégia de enfrentamento.

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Esse gesto reorganiza crenças limitantes, gera novas emoções e fortalece a identidade. É uma afirmação de presença, uma forma de ocupar simbolicamente os espaços que historicamente foram negados à negritude. E isso tem um efeito real na autoestima.

Como visagista, acredito que a beleza é uma ferramenta poderosa de autoconhecimento e expressão. Quando uma pessoa negra se vê representada, quando passa a reconhecer e admirar seus próprios traços, acontece algo muito profundo: nasce uma reconciliação com a própria imagem. E essa reconciliação é libertadora.

A estética, nesse sentido, é também política. Assumir o cabelo natural, escolher uma maquiagem que valorize a pele negra, vestir-se de forma que dialogue com a ancestralidade: tudo isso é uma forma de dizer “eu existo, eu me amo, eu me reconheço”. Cada gesto de autocuidado é também um ato de resistência.

A Consciência Negra, portanto, não se restringe a um dia ou a um mês. Ela é um exercício diário de autoafirmação; é olhar no espelho e enxergar beleza onde antes havia negação. É compreender que não há um único padrão de bonito, mas uma infinidade de belezas que refletem histórias, culturas e raízes diversas.

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Cultivar a autoestima é cultivar consciência. Quando a pessoa negra se permite amar a própria imagem, ela abre caminho para que outras também se vejam com amor. É uma corrente de cura e empoderamento que ultrapassa o campo estético e toca o social, o emocional e a alma.

Neste Novembro Negro, e em todos os outros meses, que o espelho seja um aliado, não um juiz. Que a beleza negra continue ocupando todos os espaços, inspirando novas gerações a entender que autoimagem e identidade caminham juntas.

Porque celebrar a própria imagem é, antes de tudo, um ato de consciência.

*CAROL BISPO é visagista, especialista em cabelos crespos e cacheados, formanda em Psicologia e idealizadora do método Cabelo do Dia Seguinte. Instagram: @carolbispovisagismo.

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